Lições de um Miata



A disciplina favorita. Sim. E não há melhor lugar, sob inúmeros pontos de vista, para ter essas lições. “Essas”. O deslumbramento pelo pequeno Miata foi antecedido pela necessidade de ter uma referência dinâmica com tração nas rodas traseiras, a fim de entender este – para mim – novo mundo.
Portanto sim, rumo à pista.

O Velopark, em Nova Santa Rita/RS, é um tanto injustiçado. Pista pequena, retas longas, parece muito pior do que é. Aliás, é muito melhor do que parece. Técnica, tem de tudo um pouco. Curva cega, curva homem-menino, curva paciência, curva que-carrega-a-velocidade-de-saída-por-metade-da-pista, não é monótona muito menos fácil. Instigante. Ao menos acho eu, obviamente.

Mas fui lá de olho em duas curvas, apenas duas inicialmente. Uma sequência na verdade, um “S” de média-alta velocidade. Lugar fantástico, lindo, para ler o equilíbrio de um carro com tempo e espaço suficientes. Em um Tração Dianteira é legal tentar um lift-off-oversteer. Com o Miata, fui em busca de controlar meu ângulo de deriva traseiro pelo acelerador. Esterçar o carro com o acelerador. A teoria é legal mas há um limiar que mescla o tédio com muita informação não digerida, onde a prática nos salva deste mundo virtual.

Não. Não senti. Faltou potência, sensibilidade, foco, sobrou neutralidade ? Os pneus tem dimensões nominais, compostos de rua, nada superdimensionado que caparia esta finesse. E o motor ficava em uma faixa com plena disposição. Não sei por hora. Saco. Aliás, um saco concluo eu agora. Pois o dia foi sensacional.


Na terra de gigantes

Andei volta ou outra, mas nunca explorei um tração traseira. Nunca tive um. E o Miata, em sua 2ª semana sob minha guarda e algumas voltas no final de semana, carecia simplesmente ser explorado. Muita coisa nova.

Penso por vezes em uma métrica. O tempo de ambientação. Há de existir um mérito para a engenharia de uma coisa, ao nos sentirmos confortáveis a explorá-la sem demora. Um Iphone é uma dessas coisas. Coisas assim são legais. Nos sentimos menos burros, e isso é sempre reconfortante. Não é legal ter uma coisa que só algum expert pode usar. Mas ela tem que desafiar você a se aperfeiçoar também, não sei se é sutil mas isso é essencial. Um Playmobil nunca será um Lego.

Não fique nervoso, vamos às informações vistosas.

Como todo inexperiente em sua primeira vez, sobrou surpresa e lindos movimentos descoordenados. No final até que foi, quem viu gostou, mas você sabe que dá pra impressionar muito mais. Desculpa Miata. Da próxima prometo que antevejo suas ânsias e lhe comando sabendo um pouco mais o que estou fazendo.

(Full HD)

Ah sim. Naquelas duas curvas não, mas nas outras, que delícia! Perdoem, meu exagero performático, eu tinha que saber o que é um power-oversteer, passei muito tempo em um Tração Dianteira. Além das óbvias curvas onde isso ficou evidente, havia uma terceira mais sutil. Como tudo sutil, foi deliciosamente gostoso e compreensível. Sim. Ai que gostoso! Dá pra ver, que coisa linda, não precisa nem de instrumentação e pomposas explicações para ver o comportamento sobresterçante, o oversteer, a deriva maior no eixo traseiro. Perfeito. Uma aula. Não é uma coisa aguda, não é o pneu “cavando”/”escorregando”/”patinando”. Não, a deriva é o ângulo, em relação a onde o pneu aponta, para onde o eixo está indo. O eixo traseiro não está indo reto para onde os pneus estão apontado, vai porém mais “para fora”, e para isso não é necessário que os pneus estejam “cavando”/”escorregando”/”patinando”. E esse ângulo de deriva/slip angle, é maior que o do eixo dianteiro. O carro nitidamente vira mais do que a direção está mandando. Temos portanto uma definição visual/prática de sobreesterço/oversteer.


Note o volante reto


Esqueci do meu discurso da métrica de ambientação e se sentir confortável. Voltemos. Quando você vê sua gravação onboard e se assusta, perguntando de onde tirou a audácia para apontar um clássico da indústria, um marco da engenharia em perfeito estado de conservação, para os muros de uma pista em pontos sem área de escape, recobra a importância daquela tal métrica. Um Benchmark, nota mental.










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